top of page

sobre - leia mais

        REGISTROS DA PRESENÇA DE UMA ÁRVORE é um projeto artístico de ação/intervenção urbana que articula diversas linguagens do campo das Artes, como a escrita, a gravura, a cerâmica, a performance, e a fotografia. Foi realizada em Curitiba-PR, pelo artista Guilherme de Moraes Carriel, durante o ano de 2016 e início de 2017. 

              O projeto é fruto da pesquisa e trabalho desenvolvidos durante o período de um ano, na disciplina de Projetos Avançados (P.A) "Espaço, tempo e forma" que teve como foco o tema "Estéticas Urbanas: propostas para um novo Humanismo", ministrada pela prof.ª Dr.ª Tânia Bloomfield, do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Paraná.

          No projeto REGISTROS DA PRESENÇA DE UMA ÁRVORE, as anotações em um diário embasaram e motivaram a execução dos diferentes elementos que o constituem (DIÁRIO; PRESENTES; ACÚLEOS; CADERNO DE GRAVURAS; FOTOGRAFIAS). Na companhia desse diário/livro de artista, a escrita se tornou, para o artista, uma forma de catarse reflexiva de questões que eram sensíveis, ao longo do dia. Ao escrever, ler e reler as anotações, percebeu que a temática da presença aparecia com grande peso nas páginas do livro.

                Registrar é  declarar algo por escrito, mencionar, assinalar, tomar nota de, guardar na memória como lembrança, e também marcar com regularidade, gravar um fenômeno e tantos outros significados e interpretações. Assim, compreende-se que todo o processo artístico aqui catalogado e reunido se configura em um registro daquilo que foi vivenciado de maneira presente pelo artista, esteja nas páginas do diário, nos textos desse site, na argila e na cerâmica, que mimetizam os elementos da árvore, nas gravuras, no caderno de gravuras ou nas fotografias. Tais materiais apresentados nesse site foram feitos com a intenção de produzir a sensação de presença, naqueles que interagem/interagiram com o trabalho.

 SOBRE o 
 ARTISTA: 

É bacharelando do curso de Artes Visuais da Universidade Federal do Paraná, também é instrutor de técnicas de Yoga e de Meditação, formado pelas Faculdades Integradas "Espírita" (2015) com ênfase em Yogaterapia. Reside e trabalha em Curitiba.

Sua poética artística atual está voltada para as questões que envolvem corpo,  mente, consciência, experiência, vivência do momento presente e do silêncio, da materialidade e da imaterialidade, da transitoriedade e da permanência.

Seus trabalhos caminham entre a linguagem da escultura, da gravura, da cerâmica, da instalação e da literatura, onde possui grande interesse pelos livros/cadernos de artista.

Guilherme Carriel nasceu em 1992, em Ourinhos-SP.

​            No dia 01 de Agosto de 2016, enquanto passava pela praça Miguel Couto (Pracinha do Batel, em Curitiba), fiz esse registro no diário:

Caminhando depressa, subitamente viu aquela árvore, uma Paineira, que em outros lugares e cidades já chamara sua atenção. Mas ali, naquele instante havia algo diferente. A forma daquele tronco, garrafado e com sua sinuosa bifurcação, convidava-o a adentrar em um outro estado de percepção. Mas não era uma escolha; naquele instante já estava ali. As moças e rapazes sentados na mesa da banca próxima pareciam insensíveis àquele momento, e o movimento dos passantes se mesclava ao movimento mecânico dos motores dos carros ali na rua. A Paineira nos fazia um convite para adentrar em outra ordem, intocada pelo caos daqueles que passavam ao seu redor. (CARRIEL, 2016)

               A partir desse dia, retornei várias vezes à Pracinha, onde sentava-me por alguns minutos num dos bancos da praça, a fim de tomar notas e escrever sobre aqueles momentos. A árvore Paineira (Ceiba speciosa) tomou parte da minha reflexão poética e artística e das páginas do meu diário. A observação da árvore, da praça e da vida na cidade, naqueles momentos, está registrada nesse diário. 

            O filósofo e professor Hans Gumbrecht (2010 p.48-49) reflete sobre o problema do observar: o que está à frente e pode ser observado ou percebido tem não só essa “qualidade de presença”, de estar ali materialmente, mas pode apresentar “qualidades de sentido”, ou seja, para além da superfície material de um objeto ou coisa presente. Pode-se assim interpretar sentidos mais profundos que, para esse autor, são sentidos atribuídos às coisas. Enquanto me sentava lá, procurava essa experiência de presença, de profundidade e extrair os sentidos mais profundos sobre aquelas vivências, que foram registradas no diário.

            O pensador                         (1966) afirmou que, embora a vida seja um fenômeno que ocorra no “presente”, nunca alcançamos esse presente, pois vivemos mentalmente, psicologicamente no passado, através das memórias, impressões, influências e tensões. Para ele,  a fragmentação do tempo em passado, presente e futuro é fruto de um movimento psicológico do “vir-a-ser”, onde o passado (memórias, experiências, conhecimentos...), se projeta mentalmente no futuro e o ente perde a capacidade de apreender as coisas no momento presente, ou seja, apreender as coisas ausentes das implicações mentais que façam a transferência dos conteúdos psicológicos, o que ele chama de "tempo psicológico" (em contrapartida ao "tempo cronológico" do passsar do tempo marcado pelas horas num relógio). 

                  Há assim, nessa poética, um entrelaçamento entre teóricos e filósofos ocidentais e orientais, onde os textos registrados no diário, ao serem escritos hic et nunc, "aqui e agora" enquanto estava sentado no banco da praça, foram escritos em tempo verbal que indica o passado, que ao serem lidos por um leitor em potencial o remete àquele momento, buscando fazer uma confusão temporal entre o passado, o presente e o futuro.

            As vivências ali, naqueles momentos de presença, e os registros no diário trouxeram indagações de como "produzir presença", ou provocar esse estado de presença através de um trabalho artístico e poético. Para esse fim, e inspirados em intervenções/ações urbanas como as do                          (BH),                                  (BH), nos livros de artista de                                     , bem como nas esculturas de                      ,  busquei soluções em algumas linguagens que estou envolvido como a própria escrita, a cerâmica bem como a gravura e a fotografia.

bottom of page